Sally Owens Admin
Número de Mensagens : 665 Data de inscrição : 19/07/2008 Localização : Sentada, na frente do PC, gestando.
| Assunto: Re: Vampiros: sangue e sexo Qui 30 Jul 2009, 22:52 | |
| Afff... Depois de dias tentando postar finalmente a minha net desencantou, ô karma!
Bem, gente, aqui vai a última parte do texto. Eu fiz algumas alterações nos posts anteriores em letra colorida. São parágrafos que escrevi porque debatendo com meu marido cheguei a novas conclusões. Para que não haja dúvida, o que está entre aspas no texto - informações sobre alguns filmes - não é meu, mas o resto é uma mistura de duas palestras que fiz há alguns anos na Universidade Federal da minha cidade e, claro, reflexões que me foram sugeridas pela leitura e minhas aulas de história Contemporânea.
A seguir a parte final do texto. Please... não é uma manifestação de gosto e em nenhum momento pretende ser ofensiva à saga Crepúsculo. Eu nem estaria aqui se fosse assim. Espero que gostem.
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A escalada dos vampiros no século XXI antecede em um pouco a saga Crepúsculo. Games, RPGs, HQs e mesmo no reino da literatura ocorreu um continuo e ascendente interesse pelo gênero. Porém, em nenhum destes, o sangue e a sensualidade deixaram de aparecer conjuntamente. Vocês certamente conhecem algumas destas ocorrências literárias, já foram comentadas e divulgadas aqui no fórum. Como não li todas, vou me privar de comentá-las aqui, mas convido aos que leram a tentarem analisá-las em seu conjunto e não apenas no prazer literário.
Contudo, entre todos estes exemplos, foi a série Crepúsculo que, neste início de século, alcançou um dos mais rápidos sucessos da cultura de massa que se tem notícia. Na TV, a série True Blood retoma o mito e tenta atingir – com a mesma força – um público um pouco mais velho e, por que não, masculino.
Guardadas todas as diferenças entre ambos os fenômenos pop é possível perceber o que permanece como igualdade. Mocinhas virgens, vampiros galãs e um amor proibido ou quase por diferentes questão (no mais das vezes porque ela tem pulso e ele não). Outros elementos que pode-se apontar como semelhança são: os vampiros mocinhos não são apenas bonitos, inteligentes e irresistivelmente sexis, são apaixonados por suas mocinhas e incrivelmente super-protetores. Sim, há muitas diferenças na roupagem em que isso é apresentado. A série de TV carrega no sangue e no sexo, em Crepúsculo o sangue é mínimo e o sexo só acontece com amor e após o casamento. Contudo, acho que a semelhança de raiz que expus acima é mais importante para análise que estou propondo (entre tantas imagináveis). Afinal, será que é possível fazer uma análise de nossa sociedade através de nossa devoção a um livro ou série de TV tal como apresentei para O Vampiro, no início do século XIX, e Drácula, no fim do mesmo?
Lembrem-se, por favor, que minha intenção é uma análise sociológica e não uma avaliação de nosso gosto pela série. Analisar e avaliar são coisas bem diferentes. Eu mesma leio de textos científicos à romance de banca e não me importo com a avaliação dos outros sobre o que me dá vontade e prazer de ler. Então, resguardadas (e respeitadas) as suscetibilidades de todos, continuo a análise.
Podemos tentar responder a questão com coisas que já se comentou por aqui. A primeira chave para isso está no que a Diana trouxe, isto é, o fato de que vivemos em uma sociedade carente, que quer a todo custo encontrar um suprimento de amor ilimitado e imortal para sentir-se segura. Isso é ainda mais patente se pensarmos no universo de relações efêmeras que tem sido a tônica do nosso tempo. Hoje em dia, ao contrário do que foi nos anos 80, é moda casar, faz-se o maior alarde para isso. Há até celebridades que se casam todos os anos (às vezes até com o mesmo marido). Contudo, separa-se com a mesma freqüência, menos alarde e igual rapidez. Muitas vezes a gente só fica sabendo que um casal não existe mais quando o novo se anuncia.
Ora, não se espera que um vampiro te diga numa bela manhã: “Bem querida, foi interessante, mas no momento o sangue AB safra 18 anos da vizinha está me seduzindo mais que o seu”. Tampouco se espera ver uma foto (os vampiros do século XXI aparecem em fotografias – eles são mais corpóreos que seus antepassados) de seu vampiro numa revista de fofocas grudado no pescoço de sua melhor amiga.
Uma das características dos vampiros apaixonados é que eles são fiéis. Seu amor demora a ocorrer (geralmente séculos) e, quando ocorre, é para com uma eleita que lhe foi prometida pelo destino. Em outras palavras, estamos falando de um amor romântico idealizado, estamos falando de almas gêmeas, de diferentes que se completam e, claro, de uma relação para a eternidade.
Os vampiros também não são mais asseclas do demônio, não trazem mais em si a marca do diabo. Os de Meyer tem em sua casa confortável e clara um enorme cruz entalhada em madeira e filosofam se possuem ou não alma. Conheço pouco da mitologia de True Blood, mas me parece que os vampiros ali são praticamente um mutação. Logo, e deixo claro que estou apenas exemplificando com estas séries, os vampiros do século XXI parecem apresentar uma tendência a ter esvaziado seu conteúdo metafísico, suas ligações místicas, seu ódio à cruz, ao alho e à água benta. O demônio do século XXI tem menos força que as modificações no genoma, logo, vampiros são uma espécie com suas próprias regras e não uma raça de condenados. Não achem que estou esquecendo do filme Drácula 2000 que levou tudo isso ao extremo. Mas... se não me engano, o filme foi um fracasso. Logo, parece que esse vampiro à moda antiga foi perdendo seu apelo para os novos belos e incompreendidos rapazes de caninos afiados.
Mas, cá entre nós, que mocinha quer ser salva dos vampiros modernos? Quem quer trocar suas promessa de amor eterno, ainda que complicado, por um amor complicado que já sabe de saída que não vai ser eterno?
A carência social que vivemos, portanto, não é de amor, mas de continuidade, de segurança, de relações duradouras nas quais possamos pautar nossos desejos, nossa existência e todos os nossos planos de futuro. Somos tão inseguros e carentes de poder e controle sobre nossas vidas que o vampiro deixa de ser uma ameaça para ser um herói cheio de valentia que, apesar do desejo por nosso sangue (o desejo de fazer mal) refreia isso, segura o instinto da maldade e se torna o mais devoto amante e protetor. Não que não existam vampiros ruins, eles povoam as sagas, porém, há o diferente, aquele que não se encaixa, o que sabe amar.
Aí, nesse caso, mais que uma característica social encontramos parte da grande encruzilhada em que o pós-feminismo nos lançou. Afinal, que tipo de homem as mulheres querem? E percebemos que existe algo de antigo, algo próprio dos homens de antigamente que as mulheres ainda desejam. Não é a toa que os vampiros são homens de aparência jovem, mas velhos em idade e alma. O que seria isso? Afinal, as mulheres lutaram tanto por sua independência, pela capacidade de abrirem seu caminho por si próprias. Lutaram mais ainda para que os homens reconhecessem essa capacidade e a respeitassem. Contudo, ao que parece, nossas “virgens” (que podemos traduzir por aquelas que acreditam que nunca amaram ou foram amadas verdadeiramente) mantém, lá no fundo, o desejo por serem protegidas, cuidadas, não da forma sufocante do passado (as “virgens” modernas são rebeldes), mas de uma forma amorosa, quase idolatrada. Os vampiros do século XXI vivem para suas amadas e esse é o maior desejo delas. E, para não fugir do tema: sim, há sexo, muito e do bom. E sangue... bom, um pouquinho de perigo sempre dá um pouco de tempero.
Porém, é preciso lembrar que os vampiros não tem pulsação, não respiram, não podem sair durante o dia... ahh, e claro, não existem.
Última edição por Sally Owens em Sex 31 Jul 2009, 19:29, editado 1 vez(es) | |
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Sonia Sag Admin
Idade : 54 Número de Mensagens : 382 Data de inscrição : 18/07/2008 Localização : Osônia à solta!..And whosoever shall be found, Without the soul for getting down... .
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Sô Prates Admin
Idade : 61 Número de Mensagens : 559 Data de inscrição : 19/07/2008 Localização : Com o coração em Sta. Maria.
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Belzinha Acampando
Idade : 43 Número de Mensagens : 408 Data de inscrição : 18/07/2008
| Assunto: Re: Vampiros: sangue e sexo Sáb 01 Ago 2009, 09:21 | |
| Estou sem palavras. Não tem uma só palavra que eu discorde. Foi direto à raiz, Sally! Essa mulher é minha amiga! [3] | |
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Lukka Conhecendo Edward
Idade : 43 Número de Mensagens : 33 Data de inscrição : 09/01/2009 Localização : Forks
| Assunto: Re: Vampiros: sangue e sexo Sex 14 Ago 2009, 03:25 | |
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slipknotx25 Chegando a Forks
Idade : 29 Número de Mensagens : 1 Data de inscrição : 03/04/2012 Localização : São Paulo
| Assunto: Re: Vampiros: sangue e sexo Ter 03 Abr 2012, 12:23 | |
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